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15.12.2007
As Obras

Johann Strauss, filho (Viena, 1825-1899)

Trovões e Relâmpagos, op. 324

Filho de outro mestre da música ligeira, Johann Strauss, então considerado o rei da música de dança, Strauss filho logo começou a disputar com o pai a fama de compositor mais popular de Viena na segunda metade do século XIX. Mas foi somente com a morte dele em 1849 que assumiu o posto antes pertencente ao pai. Na sua mão, a valsa mudou de status, passando de dança camponesa a entretenimento imprescindível na corte dos Habsburgos. Além dos aristocráticos salões de dança, a valsa invadiu também os teatros de toda a Europa.

Johann Strauss filho, além de suas famosas valsas, entre as quais se destaca O Danúbio Azul (1867), escreveu polcas, quadrilhas, marchas e dezesseis obras para cena, das quais Die Fledermaus (O morcego, 1874), Der Zigeuner baron (O barão cigano, 1855) e Eine nacht in Venedig (Uma noite em Veneza, 1883) são bastante populares.

Trovões e relâmpagos (Unter Donner und Blitz), de1868, é uma enérgica polca, gênero que, como a valsa, popularizou-se nas mãos de Strauss filho. A origem exata deste gênero nunca foi estabelecida, mas sabe-se que ela se desenvolveu na região da Boêmia como uma dança de roda por volta de 1800. No tempo de Strauss era associada a espetáculos teatrais e se caracterizava pela utilização de efeitos especiais e inovadores na orquestra. Uma de suas variantes, a chamada Schnell-Polka (polca rápida), por vezes também chamada "polca-explosão", foi utilizada nesta peça, talvez a mais agitada de Strauss filho. Através dos sons da percussão, notadamente o rufar permanente da caixa e as constantes e sonoras batidas, são evocados os sons da natureza, num clima de esfuziante alegria.

Hector Berlioz (La Côte-Saint-André, Isère, 1803-Paris, 1869)

Nuits d’Été, op.7

Pressionado por seu pai que queria que o filho seguisse sua profissão, a medicina, as inclinações musicais de Berlioz foram deixadas de lado durante a sua juventude. Foi enviado a Paris para estudar e, embora não tenha satisfeito a vontade do pai, tirou partido do fato de estar em uma grande e culta cidade, e, abandonando os estudos de medicina, começou dedicar-se à música com mais afinco, até que em 1826 conseguiu entrar no Conservatório de Paris para estudar composição.

Berlioz é considerado um compositor que estava adiante de seu tempo, criando uma obra inovadora e arrojada, cujo exemplo mais conhecido é a Sinfonia Fantástica de 1830. Embora seja mais conhecido por composições ligadas às grandes formas como sinfonias, óperas e oratórios, também se dedicou à escrita de peças de menor extensão, como aberturas, cenas independentes para voz e orquestra, além de canções para solo ou para coro. Escreveu cerca de quarenta canções que, com exceção do ciclo Nuits d’Été, são raramente executadas atualmente.

Embora Berlioz tenha escrito muito e sobre quase tudo, além de suas "Mémoires", nunca fez qualquer referência ao processo criativo ou às condições de criação de Nuits d’Été em seus escritos. O título da coleção é uma referência ao título francês da peça de Shakespeare "Sonho de uma noite de verão". Trata-se de um ciclo de canções completado em 1841, baseado em seis poemas de Theóphile Gautier. Originalmente escrita para mezzo-soprano ou tenor e piano, foi paulatinamente sendo adaptada para orquestra. L’Absence foi orquestrada em 1843, L’spectre de la rose em 1855 e as demais em 1856.

As canções que formam a peça são: Vilanelle (Vilanela), L’spectre de la rose (O espectro da rosa), Sur les lagunes (Sobre as lagunas), L’absence (A ausência), Au cimitière (No cemitério) e L’ile inconnu (A ilha desconhecida).

Não se pode fixar uma data exata para a estréia da peça, que foi acontecendo por partes. O trecho L’absence, na versão para piano, estreou no Conservatório de Paris em 1842 e a versão orquestral estreou no ano seguinte na Gewandhaus em Leipzig, sob a regência do compositor. Ele teria feito esta adaptação para uma namorada que era cantora durante uma viagem à Alemanha, mas como a peça não foi bem recebida naquele país, interrompeu a orquestração das outras canções até 1855, concluindo-a em 1856. A data da estréia das demais canções são menos claras, sabe-se apenas que L’spectre de la rose foi ouvida em 1856 no Teatro Ducal em Gotha, também sob a regência de Berlioz. Este, em 1862 afirmou que nunca havia ouvido esta obra na sua totalidade.

Quando realizou as orquestrações, Berlioz fez algumas mudanças em tonalidades, texto e introduziu trechos que não havia anteriormente. Disso resultou que a versão para piano e para orquestra são bastante diferenciadas em seus efeitos sobre o ouvinte, o que, entretanto não desvaloriza nenhuma delas.

 

Manuel de Falla (Cádis, 1876-Alta gracia [Argentina], 1946)

El Amor Brujo – Suíte

Embora tenha sido um dos compositores mais representativos da música espanhola, Manuel de Falla morreu no exílio. Amigo do poeta Federico Garcia Lorca, teria tentado impedir seu assassinato pelas forças do General Franco em 1936. Após a vitória dos franquistas abandonou seu país e radicou-se na Argentina, onde veio a falecer. Seus restos mortais foram levados para a Espanha e encontram-se em lugar de honra na Catedral de Cádiz, sua terra natal. Foi homenageado pela Universidade Complutense de Madri com a Cátedra de Música Manuel de Falla.

Foi aluno de Felipe Pedrell, que deu início à música nacionalista espanhola, que passa por Granados e Albeniz. Através dele, Falla se interessa pela utilização do folclore espanhol em suas composições, em especial o cante jondo andaluz, que predomina em El amor brujo.

Esta peça foi escrita entre 1914-15, pouco tempo depois de ter retornado de seus estudos na França, a pedido de Pastora Império, uma famosa bailarina que desejava uma gitaneria, ou peça cigana. Escrita inicialmente para voz e orquestra de câmara, não foi bem sucedida na estréia. Posteriormente o compositor fez uma revisão, transformando-a em uma suíte para grande orquestra, mantendo três canções para mezzo-soprano. El amor brujo tornou-se uma das obras mais conhecidas do repertorio sinfônico e um dos símbolos da música espanhola.

O enredo do balé tem como protagonista uma jovem cigana, Candelas, cujo amor por Carmelo é assombrado pelo espectro de um antigo namorado. Através de uma amiga, Lúcia, o fantasma acaba por retornar ao passado e o casal pode finalmente se unir no final. Composto por treze cenas, tem os ritmos enfáticos da música folclórica da Andaluzia, o que dá à obra um colorido especial. Apesar da ligação com a música popular, não há citação direta de qualquer obra já escrita, a música é original e tem momentos bastante característicos como a intensa Dança Ritual do Fogo e a picante Dança do Terror, que posteriormente receberam transcrições para piano.

Quando se fala de El amor brujo não se pode esquecer da versão cinematográfica de Carlos Saura, de 1986, com o bailarino e coreógrafo Antonio Gades, terceiro filme da trilogia deste cineasta que antes havia filmado Bodas de sangre e Carmen.

 

Jacques Offenbach (Colônia, 1819-Paris, 1880)

Orfeu nos infernos – Abertura

Um dos criadores da opereta francesa, Offenbach era de origem alemã e tornou-se um dos mais influentes e populares compositores da Europa durante o século XIX. Várias de suas obras continuam no repertório de grandes companhias e entre elas destacam-se as operetas Orphée aux enfers, La belle Hélène, La Vie Parisienne, La Grande-duchesse de Gérolstein e La Princesse de Trébizonde. Já no fim de sua carreira escreve uma ópera no estilo tradicional, Les contes d’Hoffmann, peça que até hoje faz parte do repertório de renomadas casas de ópera.

Orfeu nos infernos foi sua primeira incursão no gênero que o tornaria célebre, a opereta, e nela introduz genialmente o cancan, dança em voga nos cabarés da época. Estreou em 1858 e, segundo o compositor, tratava-se de uma opéra bouffe em dois atos. Em 1874 passou por uma revisão que a ampliou para quatro atos, com a indicação opéra féerie, mas não teve vida longa.

Em Orfeu nos Infernos o compositor utilizou pela primeira vez um tema de origem grega, mas a maneira satírica e irreverente como o mito foi tratado gerou inúmeras críticas. O texto, escrito por Ludovic Halévy e revisado por Hactor-Jonathan Crémieux, é uma irreverente paródia à ópera Orfeu e Euridice de Christopf Willibakd Gluck. Ao contrário desta, que descreve a saga do esposo que, munido apenas de sua lira, desce ao submundo para resgatar sua amada, a obra de Offenbach promove excêntricas alterações no enredo e ainda por cima culmina com o galop infernal (o famoso cancan das bailarinas de pernas para o ar), o que chocou a audiência. A opereta foi tachada de "paródia grotesca e vulgar", obra "cheia de indecência", de "odor pouco saudável" e "profanação da sagrada e gloriosa antiguidade".

Uma das "licenciosidades" de Offenbach é a introdução da personagem chamada "Opinião Pública" (no original o Amor), que se apresenta como guardiã da moralidade e tenta reescrever a história de Orfeu e Eurídice, que, a despeito de serem marido e mulher, se odeiam. Eurídice ama o pastor Aristeu e Orfeu ama a pastora Cloé. Eurídice exige o divórcio, mas Orfeu, temendo a reação da Opinião Pública, abafa o escândalo usando seu violino, instrumento odiado por Eurídice.

A estréia aconteceu no Théâtre des Bouffes Parisiens em Paris, 1858, e após 228 apresentações houve uma pausa de duas semanas para descanso do elenco, que estava esgotado. Para uma produção em Viena em 1860 foi providenciada a abertura, que começa com uma agitada fanfarra, seguida por uma terna canção de amor, uma passagem dramática, uma valsa, concluindo com o cancan.

Como uma das mais famosas operetas de todos os tempos, Orfeu nos infernos foi objeto de várias versões em diversas línguas. Até mesmo no Brasil, onde Arthur Azevedo realizou a sátira da sátira, traduzindo a opereta para o português com o título Orfeu na Roça, um grande sucesso no Rio de Janeiro em meados do século XIX.

Lenita W. M. Nogueira

DICIONÁRIO MUSICAL

Cancan. Dança francesa saltitante, de ritmo binário e tempo vivo, uma espécie de galope desordenado, aparentemente criado pelo dançarino Chicard por volta de 1830. Sem uma coreografia pré-definida, deixa bastante liberdade aos executantes, que abusam de contorções e gesticulações acrobáticas. Um de seus passos característicos é o ato de segurar as saias e frou-frous, levantando as pernas o mais alto possível. O nome refere-se aos ruídos provocados no solo pelos passos marcados da dança.

Cante jondo. Gênero musical característico da cultura andaluza. A pessoa que o canta é o cantaor, que ao lado dos bailores e tocaores, "con voz de sangre" exprime, através de letras sentidas e longos melismas, o "espírito oculto da dolorida Espanha", nas palavras do poeta Federico Garcia Lorca.

Orfeo ed Eurídice. Ópera de Christoph Willibald Gluck (1714-1787), que marcou o início da reforma da ópera no século XVIII; a meta era criar uma ópera despojada de artifícios e ornamentos que desfiguravam o drama que estava sendo narrado. Esta ópera, escrita originalmente em italiano, foi posteriormente traduzida para o francês e sua orquestração foi revista por Berlioz em 1856.

Polca. Estilo musical e de dança em compasso binário, com uma figuração rítmica característica no acompanhamento. De origem obscura, desenvolveu-se por volta de 1800 na região da Boêmia, então pertencente ao Império Austríaco. O nome seria derivado do tcheco pulka ou polska, palavra tcheca para garota polonesa.

Valsa. Dança extremamente popular no século XIX, em ritmo ternário. Desenvolveu-se no século XVIII e no início do XIX e foi criticada tanto pelo excesso de voltas rápidas como por sua licenciosidade, uma vez que a mão do cavalheiro deveria tocar na cintura de sua parceira. Apesar disso, a valsa ganhou enorme popularidade e importantes compositores dedicaram-se a ela, como Strauss II, Hummel, Beethoven e Schubert, entre muitos outros.

Lenita W. M. Nogueira




 
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